Confira como foi o Seminário Beleza Negra em São Paulo

Nos dias 28 de abril e 05 de maio, aconteceu na cidade de São Paulo mais uma edição do Seminário Beleza Negra, promovida pelo Instituto ABIHPEC em parceria com a IRL Consult. O evento reuniu 60 participantes em dois dias intensos de aprendizado, troca de experiências e fortalecimento do afroempreendedorismo no setor da beleza.

Sob o tema “Gestão Empreendedora, Estética Personalizada e Empoderamento”, o Seminário reforçou a importância de capacitar e impulsionar negócios negros no setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC), por meio de conteúdo técnico, inovação e protagonismo racial abordado em 10 palestras com especialistas do setor. 

A importância da base do cabeleireiro 

O primeiro ciclo de palestras teve JP Freitas, cabeleireiro e fundador da JP Hair Education, que compartilhou sua trajetória empreendedora no universo da beleza. De cortes feitos no quintal de casa para vizinhos da comunidade, JP cursou cabeleireiro com apoio da tia e abriu seu primeiro salão durante a pandemia. Hoje, com um espaço consolidado, gerencia equipe e realiza workshops por todo o país. 

Especialista em cabelos crespos, ele destacou como a profissão vai além da estética:

“Quero mostrar para o mundo o quanto mexer nos cabelos de uma mulher é mexer com a sua autoestima, com seu ego, com seu humor e até mesmo com a sua vida.”

Afroempreendedorismo com excelência 

Com mais de 24 anos de experiência, Márcia de Jesus, fundadora do Salão dos Crespos e Cachos, trouxe dicas práticas para uma gestão eficiente abordando questões como desenvolver uma agenda digital de clientes, criar um sistema de gestão de estoque, finanças e recursos humanos e oferecer serviços com foco em clientes negros, que valorize cabelos crespos e cacheados.

“O salão que você sonha começa na gestão que você escolhe fazer. Organizar, lucrar e crescer com consciência não é luxo – é base. Porque a nossa beleza é poderosa. E nosso negócio também pode (e deve!) ser.”

Racine Empodera

Day Oliveira e Suelen Nobre, fundadoras do Espaço Racine, apresentaram como o salão atua como espaço de beleza e saúde com propósito social. Elas explicaram os pilares do empoderamento que guiam o trabalho da dupla: conscientização, autonomia, capacitação e o lema “seja seu próprio padrão”.

“A estética empodera sim. Porque não dá para enfrentar o racismo quando ainda se odeia.”

Gestão eficiente para salões de Beleza

Em sua palestra, Raoni Cusma, designer de conceito da Orolab e especialista em estratégia de marca antirracista, propôs reflexões sobre o mercado de beleza e apresentou práticas de gestão que priorizam identidade e pertencimento.

Ele desmistificou mitos sobre gestão e defendeu a simplicidade, a definição de prioridades, uma cultura organizacional potente e o uso de indicadores de desempenho como ferramentas-chave. Raoni também compartilhou dados sobre o impacto do racismo no setor e reforçou a importância de salões com identidade própria:

“O mercado de beleza se esforça para desenvolver processos de inclusão, a partir de um negro universal que somente existe na cabeça da branquitude. Por isso, os salões devem ter uma identidade própria, dedicada a potencializar a manifestação da singularidade de cada um, e não ser um espaço de reproduções, vulnerabilidades e objetificação”. 

Estética personalizada em movimento

Eduardo Caetano e Mayra Ribeiro, da MISS UESP, mostraram como a estética negra também se manifesta nas passarelas do carnaval, detalhando os bastidores das preparações para concursos e desfiles.

Beleza Negra em evidência: Consumo, Identidade e Protagonismo

Alessandra Laurindo (União Afro Brasil) e Denise dos Santos (ESPM) apresentaram um panorama sobre os desafios enfrentados pelos afroempreendedores, como o acesso a crédito e investimento, destacando avanços como o movimento Black Money e o PRONAMPE (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte).

“O Brasil possui mais de 14 milhões de afro empreendedores. Uma força impulsionadora da economia e transformadora de vidas. Para o empreendedor negro é mais vantajoso empreender do que estar no mercado de trabalho.” (Alessandra)

“Nós temos muito poder de consumo, movimentamos hoje mais de R$ 1,6 trilhão por ano.” (Denise)

Panorama de Consumo e Tendências de Mercado no setor de HPPC

Gueisa Silvério, da ABIHPEC, trouxe dados relevantes do setor de HPPC, que posiciona o Brasil como o 4º país que mais lança produtos de beleza no mundo. Ela também abordou o comportamento do consumidor negro e a importância da identificação com as marcas, expondo as novas tendências como:

  • Liftoff: produtos de skincare que imitam os efeitos de lifting, inspirados em procedimentos estéticos não invasivos.
  • Keep It Glassy: estética do brilho espelhado que vai além da pele, dominando cabelos, unhas, lábios e maquiagem com acabamento vítreo.
  • Happy Hormones: cosméticos que unem cuidados com a pele e neurociência, estimulando hormônios do bem-estar, como a dopamina.

“Cuidado e bem-estar são as palavras-chave neste momento, quando pensamos em mercado consumidor.”

Raízes de Liberdade

No bate-papo “Raízes de Liberdade”, o educador capilar e consultor de ESG Juninho Loes falou sobre a conexão entre cabelo crespo, ancestralidade, empreendedorismo e responsabilidade social. Destacou a força do Black Money e o papel dos salões como agentes de transformação:

“O legado que deixamos é a semente que floresce em cada geração, fortalecendo nossa história e identidade”. 

Parcerias estratégicas no setor de beleza

Paulo Henrique explicou como a Lei do Salão Parceiro (nº 13.352/16) tem sido fundamental para a formalização de profissionais no setor da beleza, apontando seus impactos jurídicos e oportunidades para empreendedores.

“O conhecimento em gestão é tão importante quanto a parte artística, ou então você terá uma agenda lotada, mas uma conta sempre no vermelho.”

Respeito à Diversidade e Fidelização de Clientes

A consultora Jorgete Lemos apresentou uma fala potente sobre ancestralidade, pertencimento e respeito à diversidade como caminhos para a fidelização de clientes. Segundo ela, conhecer a história, adotar um posicionamento claro e atuar de forma antirracista são passos essenciais para criar conexões genuínas.

“Conhecer o contexto social é essencial para construir marcas fortes e autênticas.”

Cláudio Viggiani, presidente do Instituto Abihpec, fez a abertura e o encerramento dos dois dias de evento, além de apresentar o Projeto Beleza Negra e os planos de expansão da iniciativa para todo o Brasil.

“Uma sociedade diversa e igualitária é uma sociedade mais livre e mais rica”, destacou.

O Seminário Beleza Negra reafirmou o papel transformador do afroempreendedorismo no setor de beleza, fortalecendo iniciativas que valorizam a identidade negra, a gestão eficiente e o empoderamento estético e econômico. As próximas edições vão acontecer em Salvador (BA) e Rio de Janeiro (RJ).