O Dia da Consciência Negra, celebrado neste mês de novembro, é um momento de reflexão sobre o impacto do racismo estrutural na sociedade e também sobre como ele reflete na vida e saúde da população negra. Tanto mulheres quanto homens negros, no Brasil, enfrentam desigualdades socioeconômicas e culturais que se refletem no acesso à saúde, resultando em taxas de mortalidade mais altas em diversas doenças. De acordo com uma pesquisa de 2024 do INCA, as mulheres negras têm um risco 57% maior de desenvolver tumores triplo-negativos, um dos tipos mais agressivos de câncer de mama. Já os homens negros, conforme levantamento realizado pela seção de São Paulo da Sociedade Brasileira de Urologia, enfrentam taxas mais elevadas de incidência e mortalidade no caso do câncer de próstata, que se manifesta de forma mais agressiva neste grupo, tornando o diagnóstico precoce essencial – mas muitas vezes inacessível devido a barreiras de acesso a exames e tratamentos adequados.
O problema já havia sido apontado em levantamentos como o da plataforma SciELO, que revelam como o menor acesso a serviços de saúde e diagnósticos mais tardios contribui para desfechos de saúde piores para a população negra. Fatores como barreiras socioeconômicas e discriminação estrutural agravam essa disparidade, aumentando o risco de mortalidade por câncer para ambos os gêneros.
Diante dessas duras realidades, soma-se a questão da autoestima, que, para a população negra, representa uma carga histórica de resistência, reafirmação de identidade e luta contra estereótipos impostos ao longo de séculos. Padrões de beleza amplamente difundidos dificultam que muitos negros aceitem e celebrem sua própria beleza, impactando diretamente sua autoestima. Embora a beleza negra tenha, aos poucos, ganhado mais visibilidade e valorização, ainda há muito a ser feito para que essa representatividade se torne ampla e genuína. Em contextos de saúde, esta questão também é crítica: uma autoestima elevada é fundamental para a adesão ao tratamento e para a busca regular de cuidados preventivos. Sentir-se valorizado, representado e acolhido é também uma questão de sobrevivência.
Reconhecendo essas complexidades, o Instituto ABIHPEC tem liderado ao longo de vários anos iniciativas que buscam mitigar esses impactos. Os programas “De Bem com Você – A Beleza Contra o Câncer” e “Beleza Negra” dialogam diretamente com essas questões. “De Bem com Você” oferece oficinas de automaquiagem para mulheres e homens em tratamento oncológico, uma experiência que pode parecer simples, mas que, na prática, é transformadora. Ao ensinar técnicas de maquiagem e autocuidado, o programa busca devolver ao paciente algo que a doença muitas vezes rouba: o sentimento de dignidade e de controle sobre sua própria imagem, aspectos que influenciam positivamente a recuperação e a resiliência emocional durante o tratamento oncológico.
O projeto “Beleza Negra”, por sua vez, direciona empreendedores negros no mercado de beleza, incentivando a criação de negócios que celebrem e representem a estética afro-brasileira. Esse é um avanço importante, pois promove a inclusão e fortalece a presença de produtos e serviços que atendem às especificidades de peles negras e cabelos afro. Além disso, o programa fomenta o desenvolvimento econômico e profissional da população negra, abrindo portas para que o mercado de beleza e autocuidado seja cada vez mais inclusivo.
No mês da Consciência Negra, fortalecer o protagonismo de homens e mulheres negras, seja no âmbito do cuidado pessoal ou do empreendedorismo, é essencial para que possam, de fato, exercer sua autoestima e reivindicar seu espaço na sociedade e nos serviços de saúde.